Ações de companhias aéreas brasileiras sobem com alívio em meio à pressão de Lula por preços mais baixos de passagens

As ações das companhias aéreas brasileiras subiram na terça-feira com o alívio dos investidores de que um acordo governamental para reduzir os preços das passagens não foi tão severo quanto alguns esperavam, em meio à campanha pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tornar as passagens aéreas mais acessíveis.

A operadora Azul subiu mais de 4% nas negociações de São Paulo, enquanto a rival Gol ganhou mais de 3%, entre os maiores ganhadores no índice de ações de referência Bovespa, que subiu 0,6%.

Ambos concordaram com o governo Lula na segunda-feira em limitar os preços de milhões de passagens nacionais.

“Nossa visão é que o mercado esperava algo pior”, disseram analistas da Genial Investimentos em nota aos clientes, acrescentando que as tarifas com limite de preço não deveriam reduzir “significativamente” os rendimentos de 2024, um indicador de preços do setor.

Ainda assim, o Ministério dos Portos e Aeroportos classificou o acordo de preços como o “primeiro passo” de um programa para reduzir as tarifas, e Lula apresentou a perspectiva de uma acção legislativa para fazer face aos custos das viagens aéreas, que atingiram o nível mais elevado dos últimos 14 anos.

“Isso é algo que tanto o governo como o Senado terão de abordar, para que possamos tentar encontrar uma solução”, disse o presidente de esquerda num evento na noite de segunda-feira. “Não há explicação para os preços das passagens aéreas neste país.”

As companhias aéreas dizem que o mercado local reflete uma tendência global, com uma procura aquecida por viagens aéreas após a pandemia e problemas na cadeia de abastecimento que afetam a capacidade dos fabricantes de aviões de entregar novas aeronaves que aumentariam a capacidade.

“Estou sendo chamado a Brasília toda semana por causa dos preços das passagens”, disse o presidente-executivo da Azul, John Rodgerson, a repórteres na semana passada. “Mas os preços dos ingressos são baseados na demanda, e a única maneira de lidar com isso é trazendo mais oferta”.

No acordo de segunda-feira com o governo, a Azul concordou em vender 10 milhões de ingressos por menos de 800 reais (US$ 163) no próximo ano. A Gol oferecerá 15 milhões de assentos por menos de 700 reais cada e a Latam se comprometeu a aumentar a oferta de voos no Brasil.

Os observadores da indústria estão céticos sobre o quanto isso mudará a tarifa aérea média do Brasil, atualmente em torno de 750 reais, a mais alta desde 2009, de acordo com dados do regulador local ANAC.

“A resposta dos clientes aos atuais níveis tarifários continua positiva, sem sinais de desaceleração da demanda”, disseram analistas do BTG Pactual em nota após receberem a administração da Azul para uma reunião, acrescentando que a transportadora “não prevê grandes ajustes tarifários”.

Tanto a Azul quanto a Gol reduziram no mês passado suas perspectivas para o total de assentos disponíveis este ano.

A Azul espera adicionar 19 novas aeronaves à sua frota no próximo ano, mas reconhece que os fabricantes de aviões em todo o mundo enfrentam grandes obstáculos no fornecimento de motores, o que também aumenta os custos de manutenção para as transportadoras.

A Gol teve reclamação semelhante na semana passada, culpando o atraso nas entregas das aeronaves 737 MAX da Boeing (NYSE:BA) por limitar o crescimento da companhia aérea e pressionar sua equipe de manutenção.