Análise-Eleições na Argentina colocam laços China-Brasil no centro das atenções

A Argentina poderá assistir a um restabelecimento de alguns laços globais, dependendo do resultado da segunda volta das eleições presidenciais no final deste mês - embora o valor do comércio com parceiros como a China e o Brasil possa superar qualquer postura política de curto prazo.

Enquanto o ministro da Economia, Sergio Massa, um pragmático na coligação governista de tendência esquerdista, sinalizou continuidade política, o candidato libertário radical Javier Milei criticou duramente a China, o Brasil, o papa, o bloco comercial Mercosul da América do Sul e o grupo BRICS liderado pela China.

Massa e Milei competirão em 19 de novembro em um confronto direto que parece ser uma disputa acirrada, com eleitores furiosos profundamente divididos em meio à inflação de quase 140%, dois quintos da população na pobreza, juros altíssimos taxas e controles de capital prejudicando a economia.

A votação poderá impactar o posicionamento global da Argentina, a segunda maior economia da América do Sul, que é um grande exportador de grãos, bem como um produtor de lítio e xisto. Mas anos de volatilidade deixaram alguns investidores internacionais cautelosos e é o principal devedor do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Gustavo Martinez Pandiani, atual embaixador argentino na Suíça e provável ministro das Relações Exteriores de Massa, disse que um futuro governo de Massa procuraria melhorar as parcerias globais do país.

“Embora alguns prometam cortar relações com o Brasil ou a China, queremos mais mercados e mais parceiros comerciais, e não menos”, disse ele.

Milei disse que “não fará acordos com comunistas” na China ou no Brasil, embora apoie o comércio privado. Ele descreveu as mudanças climáticas como uma “mentira do socialismo” e disse que o Papa Francisco argentino está “do lado de ditaduras sangrentas”.

Diana Mondino, provável ministra das Relações Exteriores de Milei, disse que algumas de suas declarações foram tiradas do contexto e que na verdade ele procuraria “reinserir a Argentina no mundo”.

“Não só não há problema com o Brasil, mas esperamos poder negociar o máximo possível com o Brasil”, disse Mondino, acrescentando que com a China – um importante parceiro comercial, credor e investidor – Milei simplesmente deixaria de ter um estado opaco. acordos entre estados.

Isso poderia incluir a linha de swap cambial de 18 mil milhões de dólares do país com a China, que ajudou a Argentina, com problemas de liquidez, a pagar a sua dívida ao FMI. A China também é um grande investidor em projetos locais de lítio, hidrelétricos e nucleares.

“O que não vamos fazer são contratos secretos. Argentina, este governo, nos últimos 20 anos, teve múltiplas negociações secretas”, disse ela. “Isso não é normal e é o que dissemos que não faríamos.”

Uma atual fonte sênior do Ministério das Relações Exteriores, da mesma coalizão peronista de Massa, previu que os laços da Argentina com o Brasil e a China continuariam independentemente de quem ganhasse as eleições.

“As relações com a China continuarão como até agora com qualquer um dos dois candidatos. O intenso comércio que existe com eles não pode ser dissolvido”, disse a pessoa, pedindo para não ser identificada.

“A mesma coisa aconteceria com o Brasil: más relações pessoais não afetam o comércio”.