Banco Central do Brasil discutiu cortes menores nas taxas se a incerteza persistir

Discussões sobre cortes mais modestos nas taxas de juros no futuro surgiram no comitê de fixação de taxas do banco central do Brasil, disse o banco na terça-feira, citando o risco de maior incerteza nacional e internacionalmente.

Na ata da reunião de 19 e 20 de março, quando o banco reduziu a taxa de juro de referência em 50 pontos base, para 10,75%, o banco central afirmou que "a informação fornecida pela atualização dos conjuntos de dados analisados será particularmente importante na definição do terminal taxa de juros e sua respectiva trajetória”.

“Alguns membros também argumentaram que se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de flexibilização monetária pode ser apropriado, para qualquer taxa terminal desejada”, acrescentou.

A ata foi publicada no mesmo dia da leitura mais recente da inflação, que atingiu 4,14% nos 12 meses até meados de março, ligeiramente acima das estimativas do mercado.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, destacou que o detalhamento da inflação também mostra a aceleração dos serviços subjacentes na média anualizada de três meses.

“Junto com a mensagem da ata… não é possível descartar um corte de 50 pontos-base em junho, mas é outro argumento na direção de que a central pode ter que reduzir o ritmo dos cortes”, disse Borsoi.

Em seu comunicado de decisão da semana passada, o banco central já havia encurtado seu forward guidance, indicando a manutenção do mesmo ritmo de reduções para apenas uma reunião à frente, caso o cenário esperado persista.

Isto sugeriu que, para além da próxima reunião em Maio, o curso da flexibilização pode ser alterado, contrastando com a sinalização desde o início do ciclo de cortes nas taxas em Agosto, de cortes da mesma dimensão para as próximas “reuniões”, no plural.

Desde que a redução das taxas de juro de 13,75%, o máximo em seis anos, se manteve estável durante quase um ano para controlar a inflação, os decisores políticos reduziram os custos dos empréstimos em 300 pontos base, consistentemente com cortes de 50 pontos base em cada reunião.

Na ata, o banco central disse que concluiu por unanimidade que o aumento da incerteza diminuiu os benefícios da sinalização futura e aumentou os seus custos.

“Seria um erro interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de uma mudança no ciclo da política monetária compatível com o cenário base”, acrescentou.

Os decisores políticos veem incertezas relativamente ao cenário desinflacionário internacional devido à força da actividade nos Estados Unidos e ao seu impacto nas condições financeiras globais.

Eles também enfatizaram que, embora haja um comportamento benigno dos preços dos alimentos e dos bens industriais no Brasil, surgem dúvidas sobre a velocidade da desinflação nos serviços devido à atividade resiliente.

“Um processo desinflacionário mais lento, tanto a nível interno como global, não constitui o cenário de base, mas foi incorporado como uma fonte de incerteza. Esta incerteza crescente recomenda cautela na condução da política monetária.”