Banco Central do Brasil inicia cortes de juros de forma mais agressiva do que o esperado

O Banco Central do Brasil iniciou seu ciclo de corte de juros de forma mais agressiva do que o esperado na quarta-feira, reduzindo sua taxa básica de juros em 50 pontos-base e sinalizando mais do mesmo nos próximos meses devido a uma melhora nas perspectivas de inflação.

O Comitê de fixação de taxas do banco, o Copom, cortou sua taxa Selic para 13,25%, como apenas 10 dos 46 economistas consultados pela Reuters previam. O restante esperava uma redução menor de 25 pontos-base.

O primeiro corte de juros do Brasil em três anos ocorreu depois que os formuladores de políticas mantiveram os custos de empréstimos estáveis ​​desde setembro de 2022, após 1.175 pontos-base de aumentos de juros para combater a inflação, o aperto monetário mais agressivo do mundo na época.

Embora a decisão de política monetária de quarta-feira tenha sido fortemente dividida, a declaração de política do Copom sinalizou uma perspectiva compartilhada para manter o ritmo de cortes de juros nos próximos meses.

“Se o cenário evoluir como esperado, os membros do Comitê antecipam unanimemente novas reduções da mesma magnitude nas próximas reuniões”, escreveram os formuladores de políticas, chamando esse ritmo adequado para manter a inflação sob controle.

“O tom relativamente dovish… sugere que as preocupações dos formuladores de políticas com a inflação estão se dissipando mais rapidamente do que prevíamos”, disse William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economic, em nota aos clientes.

“Como resultado, agora esperamos que os cortes nas taxas de juros sejam mais antecipados”, acrescentou, revisando sua previsão de Selic para 11,75% no final do ano, abaixo da previsão anterior de 12,50%.

A decisão de quarta-feira refletiu uma divisão entre os membros do conselho, com cinco votos a favor do corte de 50 pontos-base e quatro votos a favor de um corte mais modesto de 25 pontos-base.

Foi a primeira reunião de política do Copom a incluir dois dos indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o conselho do banco central, a quem o presidente do banco central, Roberto Campos Neto, se juntou na votação pela redução mais agressiva da taxa de juros.

Lula criticou publicamente Campos Neto, um resquício de seu antecessor de direita, por manter os custos de empréstimos estáveis ​​apesar da queda da inflação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia pedido um corte de juros de 50 pontos-base na quarta-feira.

Haddad posteriormente aplaudiu a decisão, elogiando Campos Neto pela abertura ao diálogo e prometendo “harmonia” entre política fiscal e monetária.

O governo esquerdista de Lula acalmou as preocupações dos investidores com novas regras fiscais no Congresso e uma reforma histórica nos impostos sobre o consumo. A Fitch Ratings reconheceu o progresso na agenda econômica do governo em uma decisão na semana passada de elevar o rating soberano do Brasil.

O arrefecimento da atividade econômica e uma taxa de câmbio mais forte também ajudaram a reduzir a inflação ao consumidor no Brasil para 3,19% nos 12 meses até meados de julho, abaixo da meta oficial do banco central de 3,25% para este ano.

A inflação deverá voltar a subir na segunda metade do ano, devido a efeitos de base menos favoráveis. O banco central atualizou sua projeção de inflação para 2023 na quarta-feira para 4,9%, ante 5,0% em junho.

O Copom disse que os cortes de juros são consistentes com sua estratégia de trazer a inflação para sua meta no horizonte relevante para a política monetária, que agora inclui 2024 e 2025, em menor escala.

A meta de inflação do Brasil é de 3% para ambos os anos. Os formuladores de políticas disseram em seu comunicado que agora veem os preços ao consumidor subindo 3,4% em 2024 e 3,0% em 2025.