O governo do Brasil criticou o varejista francês Carrefour (EPA:CARR) depois que seu CEO prometeu manter a carne sul-americana fora de suas prateleiras na França em solidariedade aos agricultores, classificando os comentários como parte de um esforço mais amplo para minar um acordo comercial pendente.
O ministro da Agricultura, Carlos Favaro, classificou o compromisso como parte de uma “ação orquestrada” por empresas francesas para sabotar o pacto comercial entre a União Europeia e o bloco comercial sul-americano Mercosul, que as autoridades pretendem finalizar este ano.
Numa publicação nas redes sociais dirigida aos líderes dos lobbies agrícolas franceses na quarta-feira, Bompard disse que o acordo UE-Mercosul apresenta o “risco de a produção de carne se espalhar para o mercado francês, não cumprindo os seus requisitos e padrões”.
“O Carrefour quer formar uma frente unida com o mundo agrícola e hoje se compromete a não vender nenhuma carne do Mercosul”, acrescentou.
Representantes do Carrefour esclareceram à Reuters que o varejista atualmente não compra carne do Mercosul na França. A empresa não respondeu a perguntas sobre o abastecimento das suas lojas em outros lugares da Europa.
O grupo brasileiro da indústria de carnes Abiec, que representa fornecedores de carne bovina, incluindo JBS, Marfrig e Minerva, classificou o plano do varejista como “contraditório”, já que sua unidade local, Carrefour Brasil, opera 1.200 lojas no país, vendendo principalmente carne bovina nacional.
“Parece-me que estão tentando encontrar algum pretexto para que a França não assine… a finalização do acordo Mercosul-União Europeia”, disse Favaro.
Num comunicado separado, o Ministério da Agricultura do Brasil afirmou que os controlos rigorosos do Brasil o tornaram o maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, vendendo para 160 países e cumprindo os padrões mais rigorosos, incluindo os da UE.
Conrado Ferber, chefe do Instituto Nacional de Carnes do Uruguai, disse que a posição do Carrefour era “lamentável” e “comercialmente incompreensível” porque desconsiderava a base do livre comércio que permite o crescimento das economias.
Em comunicado à Reuters na quinta-feira, o Carrefour esclareceu que os comentários do CEO se aplicam apenas às lojas na França e não estão relacionados à qualidade da carne do Mercosul, mas sim às preocupações do setor agrícola francês.
O Carrefour afirmou que todos os outros países onde o grupo está presente, incluindo Brasil e Argentina, podem continuar a comprar carne do Mercosul.