Brasil enfrenta contratempos em esforço para erradicar déficit orçamentário

Atrasos e decepções com medidas de aumento de receita tornaram mais difícil para o governo brasileiro equilibrar seu orçamento e eliminar um déficit orçamentário primário até 2024, conforme prometido em uma nova estrutura fiscal.

Essas regras orçamentárias propostas acalmaram os investidores nervosos com uma explosão de gastos públicos, mas os fracos retornos de medidas de receita únicas, a queda nos números dos impostos e o aumento das metas de déficit para 2023 mostram que o governo ainda tem trabalho a fazer.

Em março, ao propor suas novas regras fiscais, o governo disse que estava trabalhando para reduzir seu déficit para R$ 50 bilhões (US$ 10,4 bilhões) este ano. Em maio, as autoridades falavam de uma meta informal de déficit de 100 bilhões de reais para 2023.

No mês passado, a fraca arrecadação de impostos levou o Ministério da Fazenda a elevar sua projeção de déficit para este ano para R$ 145 bilhões, ou 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Entre as medidas fiscais que mais decepcionaram está um programa de renegociação de dívidas com a Receita Federal, cujo prazo foi prorrogado nesta semana até o final de dezembro.

Esse programa deveria arrecadar R$ 50 bilhões este ano, mas dados do governo mostraram que, de fevereiro a junho, arrecadou apenas R$ 2,5 bilhões, ou 5% da meta.

O programa “pode, de fato, mostrar poucos retornos”, disse um funcionário do Ministério das Finanças sob condição de anonimato, acrescentando que as renegociações da dívida fiscal estavam entre os planos revelados nas primeiras semanas do novo governo em janeiro, quando as autoridades reconheceram publicamente que estavam estabelecendo planos ambiciosos metas.

“Foi um dos itens que o Ministério da Fazenda não deu muito peso, justamente porque sabia que poderia frustrar”, disse o governante.

O Ministério das Finanças não respondeu aos pedidos de comentários.

Pelas novas regras fiscais ainda pendentes de aprovação no Congresso, o governo precisaria sanar seu déficit orçamentário em 2024, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB.

No entanto, o governo não provou aos investidores que pode movimentar significativamente a receita.

Na semana passada, o Ministério da Fazenda divulgou uma medida para taxar as apostas esportivas online no país. Antes esperado para gerar receita anual de 12 bilhões a 15 bilhões de reais, as autoridades disseram que agora esperam que a medida traga apenas 2 bilhões de reais em 2024.

“A maior parte das medidas ainda não surtiu efeito concreto”, disse Felipe Salto, economista-chefe da Warren Rena, que espera um déficit primário de 0,9% do PIB neste ano.

“Seria muito importante que o governo começasse a liberar notas técnicas e bancos de dados”, afirmou. “Isso ajudaria a dar maior peso, principalmente à promessa de zerar o déficit no ano que vem.”