Comissão do Senado Federal adia votação sobre autonomia financeira do Banco Central

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado brasileiro adiou por uma semana a votação de uma proposta de emenda constitucional que concede autonomia financeira ao banco central, disse na quarta-feira, para dar tempo para redigir um novo texto de consenso.

A decisão seguiu sugestão do senador Jaques Wagner, líder do governo na Câmara Alta.

Depois de participar de reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na quarta-feira, Wagner disse que o governo concordou em conceder autonomia financeira à autoridade monetária, mas não apoiou a transformação da instituição em empresa pública, conforme proposto na minuta original.

O Congresso do Brasil concedeu autonomia operacional ao banco central em 2021, separando o mandato do governador do banco central do mandato do presidente do país. A autonomia financeira daria ao banco independência adicional em relação ao executivo.

Desde que assumiu o cargo em janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou desconforto em trabalhar com um chefe de política monetária nomeado por seu antecessor, Jair Bolsonaro.

O governador Roberto Campos Neto defendeu publicamente a autonomia financeira como um passo necessário para que o banco central tenha o seu próprio orçamento, permitindo-lhe melhorar o quadro de pessoal e enfrentar os desafios tecnológicos.

O governo Lula reforçou a oposição à proposta em documento distribuído aos senadores na manhã desta quarta.

Entre os oito principais riscos apontados no documento, obtido pela Reuters, a principal preocupação era que a emenda constitucional comprometesse o cumprimento das regras fiscais, pois imporia uma despesa primária de 125 bilhões de reais (US$ 23,06 bilhões) ao governo federal no próximo ano.

Este resultado negativo projetado para o banco central em 2025 enquadra-se atualmente na cobertura do Tesouro como despesa financeira, o que não afeta as principais metas fiscais do governo.

Contudo, isto mudaria se o banco central fosse transformado numa empresa pública, como foi proposto. Segundo o governo, as regras fiscais estipulam que os dividendos e as capitalizações das empresas, mesmo financeiras, constituem fluxos primários.

Os resultados negativos do banco central decorrem principalmente de suas operações cambiais, que são afetadas por contratos de swap e flutuações nas reservas internacionais do Brasil.