Economia do Brasil vai esfriar este ano em meio a cabo de guerra fiscal

A economia do Brasil deverá esfriar este ano, descobriu uma pesquisa da Reuters, em meio a um cabo de guerra cada vez mais intenso entre o governo e alguns legisladores sobre qual setor deveria pagar a conta pelos ajustes necessários para cumprir metas orçamentárias ambiciosas.

O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou mais do que o esperado em 2023, em parte devido ao aumento do otimismo dos investidores em relação aos esforços do Ministro das Finanças, Fernando Haddad, para corrigir desequilíbrios profundos. Mas o quadro nessa frente é agora mais confuso.

O lado fiscal do país “continua a ser o elo mais fraco entre os seus fundamentos macroeconómicos”, escreveram num relatório analistas do Rabobank, alertando para um possível aumento dos riscos de mercado se o governo eventualmente admitir uma realidade orçamental mais sombria.

O crescimento da economia número 1 da América Latina deverá desacelerar para 1,6% em 2024, contra 3,0% em 2023, de acordo com a previsão mediana de 50 economistas entrevistados entre 8 e 18 de janeiro. As estimativas para este ano variaram entre 0,4% e 2,5%.

Por um lado, a despesa pública poderia dar à economia um impulso extra a partir das decisões de pagar a dívida federal acumulada que estava no limbo e de implementar cortes menores num esquema especial de investimento federal conhecido como “PAC”.

“Há surpresas positivas em relação às medidas fiscais recentemente aprovadas, à liquidação de precatórios acumulados e aos efeitos colaterais do programa PAC”, disse João Leme, analista da consultoria Tendências.

Contudo, as tendências fiscais globais estão a começar a causar preocupação, uma vez que as despesas para financiar os planos sociais do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuam a aumentar mais rapidamente do que as receitas federais, apesar das diferentes iniciativas fiscais de Haddad.

Entre janeiro e novembro de 2023, o défice primário atingiu 114,6 mil milhões de reais (23 mil milhões de dólares), revertendo um excedente de 49,7 mil milhões de reais do mesmo período do ano anterior, com o resultado de novembro a ficar abaixo das expectativas novamente.

Pesando ainda mais no orçamento, os legisladores derrubaram no mês passado um veto presidencial a um projeto de lei aprovado pelo Congresso que concedia renúncias fiscais a empresas e municípios totalizando cerca de 27 bilhões de reais.

Em resposta, o governo revelou ajustamentos fiscais para limitar os benefícios em vários sectores através de uma ordem executiva em vigor por quatro meses, mas ainda requer a aprovação do Congresso para ir além desse período.

Além disso, a equipa económica começou a discutir a possibilidade de voltar a impor impostos impopulares sobre importações no valor de até 50 dólares, uma medida que provavelmente enfrentará reclamações de retalhistas e consumidores.

À medida que o desacordo aumenta, espera-se cada vez mais que a administração Lula falhe o seu objectivo de reduzir o défice primário a zero. A mediana das ligações de oito bancos compiladas pela Reuters mostrou que caiu apenas para -0,8% do PIB, de -2,2% em 2023.

“Não esperamos que o governo consiga fechar o déficit em 2024”, disse Flavio Serrano, economista-chefe do Banco BMG. “O maior desafio do governo será obter receitas num ambiente de crescimento real dos gastos obrigatórios.”

Os mercados financeiros mantiveram-se em sua maioria calmos, com a moeda local oscilando em torno de 5,0 por dólar americano. O real deve continuar próximo desse nível por pelo menos mais um mês, à medida que a atividade do Carnaval (NYSE:CCL) em fevereiro diminui.

Um primeiro relatório bimestral sobre receitas e despesas, previsto para Março, “será fundamental para determinar a dimensão do congelamento orçamental total que seria necessário para garantir o cumprimento da meta zero”, disse Roberto Secemski, economista do Barclays.

“Alternativamente, poderá reabrir a discussão sobre possíveis mudanças na meta, o que prejudicaria a credibilidade fiscal.”

No resto da região, a economia mexicana deverá crescer 2,2% este ano, enquanto o PIB da Argentina deverá contrair 2,3%.