França diz que Comissão Europeia encerrará negociações de acordo comercial com países do Mercosul

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse à Comissão Europeia que era impossível concluir as negociações do acordo comercial com o bloco sul-americano do Mercosul e entende que a UE pôs fim às negociações, disse o seu gabinete na segunda-feira.

Os agricultores organizaram protestos massivos em França ao longo das últimas semanas, irritados com o aumento dos custos e as importações baratas, na sequência de ações semelhantes noutros países europeus, incluindo a Alemanha e a Polónia. Os agricultores franceses opuseram-se, em particular, às negociações em curso sobre um acordo comercial entre a UE e os países do Mercosul, que, segundo eles, permitiriam importações baratas de alimentos que não cumprem os rigorosos padrões da UE.

“(Macron) reiterou muito firmemente à Comissão o facto de ser impossível concluir conversações nestas condições”, disse um conselheiro presidencial francês aos jornalistas antes da cimeira da UE de quinta-feira.

O conselheiro acrescentou que a UE entendeu que era impossível chegar a um acordo neste contexto e que as conversações da UE com os países do Mercosul foram interrompidas.

“É nosso entendimento que instruiu seus negociadores a encerrar a sessão de negociação em curso no Brasil e, em particular, cancelar a visita do vice-presidente da Comissão que estava prevista tendo em vista uma conclusão”, acrescentou.

A Comissão disse que os especialistas técnicos da UE e do Mercosul permaneceram em contato, incluindo reuniões de 25 a 26 de janeiro no Brasil, mas algumas questões importantes permaneceram em aberto.

“O foco da UE continua a ser garantir que o acordo cumpra os objetivos de sustentabilidade da UE, respeitando ao mesmo tempo as sensibilidades da UE no setor agrícola”, disse um porta-voz.

A França manifestou repetidamente reservas sobre o acordo UE-Mercosul, cujo texto foi acordado em 2019, após 20 anos de negociações intermitentes. Vários outros membros da UE apoiam o acordo. As negociações foram retomadas depois que a UE buscou garantias sobre as mudanças climáticas e o desmatamento dos países do Mercosul, uma união aduaneira formada por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Em Brasília, diplomatas disseram que Macron estava sob pressão para defender as questões agrícolas francesas e que as suas opiniões não representavam as da Comissão Europeia, prevendo-se que as negociações continuem nos próximos meses.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil se recusou a comentar as declarações de Macron, mas uma fonte do ministério disse que as negociações “não são realizadas com países ou presidentes individuais, mas entre o Mercosul e a Comissão Europeia”.

Os negociadores comerciais da UE e do Mercosul reuniram-se em Brasília durante dois dias na semana passada, mas relataram “progressos limitados”, de acordo com um diplomata envolvido nas negociações, que estava cético quanto à possibilidade de o acordo ser concluído antes das reuniões ministeriais da Organização Mundial do Comércio (OMC) no final do próximo mês, como alguns esperavam.