Haddad do Brasil revela conjunto de ajustes fiscais para garantir contas públicas equilibradas

O ministro das Finanças do Brasil, Fernando Haddad, revelou na quinta-feira ajustes fiscais para limitar benefícios em vários setores e garantir compensação fiscal, que deverão enfrentar oposição no Congresso.

O pacote visa substituir completamente o texto de um projeto de lei aprovado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou, apenas para ser derrubado pelo Congresso há duas semanas.

Em entrevista coletiva, Haddad disse que todas as medidas constituiriam uma ordem executiva a ser divulgada este ano. Uma vez assinadas por Lula, as medidas entrariam em vigor imediatamente por quatro meses, mas exigiriam a aprovação do Congresso para ultrapassar esse período.

As mudanças eliminam regras aprovadas pelos legisladores para cidades pequenas e reduzem benefícios fiscais para empresas, e provavelmente enfrentarão escrutínio político, disse o senador Efraim Filho, autor do projeto de lei visado pela proposta de substituição.

“A emissão da ordem executiva contradiz uma decisão tomada por uma ampla maioria no Congresso. Enfrentará resistência desde o início”, escreveu ele nas redes sociais.

Haddad, que reiterou a intenção do governo de buscar contas públicas equilibradas em 2024, já havia indicado que o governo apresentaria uma proposta substitutiva ao projeto.

Originalmente, prorrogou as isenções fiscais sobre os salários para 17 sectores laborais até 2027, e o seu impacto ainda não tinha sido incorporado no orçamento de 2024.

O ministro esclareceu na quinta-feira que a perda majoritária de receita, cerca de 15 bilhões de reais (US$ 3,09 bilhões), deveria decorrer de uma mudança contida no texto que reduziu a alíquota de contribuição sobre a folha de pagamento dos municípios menores de 20% para 8%.

Segundo Haddad, a ordem executiva já está definida para retirar toda essa parte, que será objeto de novas negociações.

O impacto restante do projeto, de 12 bilhões de reais, será compensado na nova medida com ajustes fiscais em três frentes, disse o secretário da Receita, Robinson Barreirinhas.

O governo vai propor o fim gradual das desonerações sobre a folha de pagamento para os setores beneficiados, sugerindo que, em troca da alíquota padrão de 20% sobre a folha de pagamento, as empresas paguem 10% ou 15%, dependendo da categoria, sobre o equivalente a um mínimo salário para cada um de seus trabalhadores formais.

Segundo Haddad, essa alternativa tem um custo anual de 6 bilhões de reais, que será compensado por mudanças que visam reduzir os benefícios fiscais pós-pandemia concedidos à indústria de eventos por meio do programa “PERSE”, eliminando-o eventualmente até 2025.

Uma terceira medida irá restringir a capacidade dos contribuintes de compensar anualmente os impostos, acrescentou o ministro.

Barreirinhas ressaltou que o teto anual para compensação tributária ainda não está estabelecido e será regulamentado ainda mais, mas 30% é um parâmetro que poderia ser adotado.

“A ideia é implementar um escalonamento, quanto maior o valor, maior o prazo de utilização (do crédito tributário), mas limitado a cinco anos”, disse, acrescentando que a limitação só se aplicará aos créditos tributários recebidos em juízo. casos acima de 10 milhões de reais.

Em nota aos clientes, analistas da XP (NASDAQ:XP) avaliaram positivamente a proposta, mencionando “boa probabilidade de obter ganhos fiscais” com as medidas, o que pode mitigar as distorções atuais.

“Por enquanto, mantemos nossa projeção de déficit primário de 91,6 bilhões de reais (0,8% do PIB), mas os riscos estão inclinados para cima.”