Nova variante do coronavírus brasileiro encontrada em quase metade dos casos de cidades amazônicas

Uma variante do novo coronavírus já é responsável por cerca de metade das novas infecções na cidade amazônica brasileira de Manaus, levantando preocupações sobre um risco maior de disseminação, alertou um pesquisador na sexta-feira.

Uma equipe liderada pela imunologista Ester Sabino coletou dados genômicos de testes do COVID-19 em Manaus que indicaram que 42% dos casos confirmados foram infectados pela nova variante, que possui mutações semelhantes às variantes britânica e sul-africana.

“Essa foi a frequência que apareceu em nossos dados de dezembro. Estamos terminando janeiro agora e está aumentando ”, disse Sabino, professor da Universidade de São Paulo cujos resultados preliminares da equipe foram publicados no fórum Virological.org.

Segundo ela, é muito provável que a nova variante brasileira seja mais transmissível do que a cepa dominante atual, embora não tenha sido comprovada de forma definitiva, pois tem mutações que demonstraram ter esse efeito em outras variantes.

A maior cidade da Amazônia está sofrendo atualmente uma segunda onda brutal de casos COVID-19 que sobrecarregou seu sistema hospitalar e exauriu o suprimento de oxigênio, deixando dezenas de pessoas morrendo em suas casas e enfermarias de terapia intensiva, dizem os médicos.

Manaus resistiu aos bloqueios e o distanciamento social não é imposto, mas os pesquisadores acreditam que o aumento também é agravado pela nova variante, detectada pela primeira vez há duas semanas no Japão, depois que quatro pessoas viajaram de Manaus para o país.

“Tudo indica que essa variante está por trás da forma como a pandemia está evoluindo em Manaus”, disse Sabino.

Sabino instou as autoridades de saúde brasileiras a reforçar a vigilância do surto de coronavírus em Manaus e região, mas também em todo o Brasil. “Isso tem que ser monitorado”, disse ela.

A nova variante, identificada como P.1, que possui as mutações N501Y e E484K, foi detectada em 13 das 31 amostras de teste de PCR positivas coletadas em Manaus entre 15 e 23 de dezembro. Estava ausente nas amostras de vigilância do genoma vistas entre março e novembro, destacando a rapidez com que apareceu e se reproduziu.

Diante da possibilidade de uma forma mais contagiosa do coronavírus, o grupo pediu à autoridade da aviação civil que intensifique o monitoramento nos principais aeroportos dos passageiros que chegam de Manaus, cidade isolada da Amazônia acessível principalmente por avião ou barco.

A nova variante preocupa principalmente países europeus, que até então confiavam que iriam resolver os principais problemas decorrentes da crise até o verão desse ano, devido à vacinação em andamento. No entanto, ainda não está claro se a principal vacina utilizada no continente - Pfizer - será eficaz contra a variante brasileira, sul-africana e também britânica.