O Brasil apresenta fortes números de emprego, sinaliza uma atividade mais forte; inflação é uma preocupação

O Brasil divulgou números vigorosos do mercado de trabalho na terça-feira, reforçando a visão de uma atividade econômica mais forte no início deste ano, mas mantendo o banco central cauteloso quanto aos possíveis impactos sobre a inflação.

Tanto a taxa de desemprego como os números da criação de emprego formal na maior economia da América Latina foram melhores do que o esperado nas leituras de Março, mantendo uma tendência positiva que entusiasmou o governo e assustou os decisores políticos.

Os salários reais continuam a crescer a um ritmo relativamente sólido, fazendo com que a inflação dos serviços permaneça desconfortavelmente elevada”, disse o economista-chefe da Pantheon Macroeconomics para a América Latina, Andres Abadia.

O Banco Central do Brasil, que deverá tomar sua próxima decisão de política monetária na próxima semana, enfatizou que está monitorando de perto a dinâmica da renda a partir de diversas pesquisas para avaliar melhor o grau de ociosidade no mercado de trabalho e seus potenciais impactos sobre a inflação do setor de serviços. .

Um dos membros do conselho do banco, Ailton Aquino, disse a repórteres na terça-feira que a inflação nos serviços ainda era um ponto de atenção e que os novos números do mercado de trabalho seriam levados “muito a sério” pelo comitê de política monetária.

O banco central baixou a sua taxa diretora de financiamento em 50 pontos base em cada uma das suas últimas seis reuniões, para 10,75%, e sinalizou em março outro corte da mesma magnitude em maio.

Mas o Governador Roberto Campos Neto disse recentemente que os decisores políticos já não podiam fornecer orientações sobre as decisões políticas devido ao aumento das incertezas, com alguns a acreditar que o ritmo de flexibilização pode ser reduzido.

O Ministro das Finanças, Fernando Haddad, apelou no mês passado aos decisores políticos para não se assustarem com os dados do emprego ao avaliarem a margem para novos cortes nas taxas, ao mesmo tempo que sinalizou que o governo pode aumentar a sua previsão para o crescimento económico em 2024.

Na noite de terça-feira, Haddad disse a repórteres em São Paulo que o Brasil está “combinando criação de empregos com inflação muito controlada nestes primeiros meses do ano”, acrescentando que é necessário “combinar a interpretação desses números com o que eles realmente representam para Brasil."

A taxa de desemprego no Brasil situou-se em 7,9% no período janeiro-março, de acordo com a agência de estatísticas IBGE, ligeiramente acima dos 7,8% observados no trimestre anterior, mas ainda a mais baixa para um trimestre até março desde 2014.

A taxa ficou abaixo dos 8,1% esperados por analistas consultados pela Reuters num período em que o desemprego é sazonalmente mais elevado.

Dados governamentais separados mostraram que o Brasil criou 244.315 empregos formais líquidos em março, significativamente mais do que os 188 mil esperados em uma pesquisa da Reuters com economistas.

“Os dados de hoje indicam que poderemos ver novos ajustes nas projeções de crescimento do PIB, bem como preocupações sobre a inflação dos serviços”, disse o economista da Kinitro Capital, João Savignon. “Eles continuam retratando um mercado de trabalho apertado.”

No primeiro trimestre foram criados 719.033 empregos formais, segundo a série ajustada do governo, um aumento de 33,9% em relação ao ano anterior, com destaque para o setor de serviços.

O salário médio na contratação diminuiu ligeiramente para 2.082 reais ($ 405) de 2.087 reais no mês anterior, de acordo com o Ministério do Trabalho do Brasil, mas os dados do IBGE para o trimestre completo mostraram que os salários médios aumentaram 1,5% em uma base sequencial.