O celular do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi hackeado como parte de uma operação que também visava a membros de seu governo, informou o Ministério da Justiça do Brasil na quinta-feira. Quatro homens foram presos por suspeita de invadir os telefones celulares de vários ministros e centenas de juízes e promotores.
“Eles estão perdendo tempo comigo”, disse Bolsonaro a repórteres na quinta-feira. No Twitter, ele chamou os hacks de “um grave ataque contra o Brasil e suas instituições” que deve ser punido, e disse que nunca discutiu assuntos sensíveis ou de segurança nacional em seu celular.
Lula estava liderando Bolsonaro nas eleições presidenciais quando foi preso no ano passado por acusações de corrupção. Lula, que foi presidente do Brasil de 2003 a 2010, foi condenado e está cumprindo uma sentença de 12 anos; ele disse que é inocente.
[Ele é o juiz “herói” que supervisionou a ampla investigação sobre a corrupção na lavagem de carros do Brasil. Agora ele está enfrentando seu próprio escândalo.]
A investigação da lavagem de carros revelou um esquema pelo qual as construtoras brasileiras subornavam os políticos para garantir acordos lucrativos para projetos do governo. Mais de 100 dos principais líderes políticos e empresariais do país foram implicados; as pontuações foram condenadas.
O escândalo se espalhou para além do Brasil, chegando a autoridades do México à Argentina; Três ex-presidentes do Peru foram acusados. Moro, que presidiu muitos dos casos brasileiros, emergiu como um herói anticorrupção.
Bolsonaro ganhou a eleição e nomeou Moro como seu ministro da justiça. Ele não confirmou a autenticidade das mensagens, mas diz que elas não mostram comportamento impróprio.
Um dos homens presos nesta semana disse à polícia que deu ao cofundador da Intercept, Glenn Greenwald, acesso às mensagens, informaram jornais locais. Ele disse que deu as mensagens a Greenwald anonimamente e de graça depois de terem sido hackeadas.
Greenwald se recusou a identificar a fonte dos vazamentos.
Os homens que foram presos são acusados de hackear os celulares de Moro, o ministro das Finanças, o chefe de gabinete de Bolsonaro e outros. A polícia disse que está rastreando centenas de milhares de dólares em interações financeiras suspeitas relacionadas aos hacks.
As mensagens colocaram em questão a reputação de Moro como juiz imparcial que presidiu os casos da lavagem de carros. Nenhuma informação do telefone de Bolsonaro apareceu publicamente, mas as prisões ampliam um escândalo que tem desafiado o mandato do presidente como um autoproclamado defensor da corrupção.
Em junho, o Intercept divulgou mensagens supostamente trocadas entre os promotores e o juiz Sérgio Moro no amplo escândalo de corrupção da Operação Lava Jato. As mensagens pareciam mostrar Moro dirigindo os promotores em seu caso contra o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
A indignação com o escândalo do suborno ajudou a impulsionar Bolsonaro ao poder no ano passado. O ex-capitão do Exército prometeu reprimir a corrupção, com Moro sendo o cara do esforço.
Mas agora, muitos brasileiros azedaram em Moro. Uma pesquisa realizada depois que o Intercept começou a publicar os supostos vazamentos descobriu que 58% dos brasileiros acreditavam que as trocas eram “impróprias”.
Moro não concorda. Em uma sessão antes do Senado do país no mês passado, ele disse que ficaria feliz em deixar o cargo se houvesse provas de que ele agiu ilegalmente.
“Eu não estou apegado ao trabalho, por si só”, disse ele. “Mostre-nos tudo. Vamos enviá-lo para o escrutínio público. [Glenn Greenwald já enfrentou dificuldades para reportar antes. Mas não assim.] As prisões acontecerão no dia seguinte à demissão do governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló (PNP), em meio a protestos generalizados depois que mensagens entre ele e sua equipe vazaram para o público.
No Brasil, os vazamentos polarizaram o país. Alguns pediram que Greenwald, um cidadão americano que mora no Rio de Janeiro, seja deportado. Outros pediram que Moro se demitisse.
Os vazamentos também provocaram uma discussão sobre se os jornalistas que divulgam informações obtidas ilegalmente por terceiros devem ser protegidos da perseguição criminal. Greenwald, por sua vez, defendeu os artigos, twittando que “a evidência de impropriedade de Moro, talvez obtida ilegalmente, não altera ou altera o fato de que ele agiu de forma corrupta”.