Setor agrícola brasileiro enfrenta Suprema Corte pelos direitos às terras indígenas

Atormentado pela rejeição da Suprema Corte de sua proposta de restringir o reconhecimento de terras indígenas, o lobby agrícola do Congresso brasileiro conseguiu na quarta-feira aprovar rapidamente um projeto de lei para se opor à decisão do tribunal superior.

A bancada que representa o agronegócio também apoia projetos de lei para alterar a Constituição que garantem o direito dos povos indígenas às suas terras ancestrais, disse seu presidente, Pedro Lupion, à Reuters.

“Iremos prosseguir com os nossos planos legislativos, independentemente do que o tribunal faça”, disse ele numa entrevista na terça-feira.

A Suprema Corte votou na semana passada contra o estabelecimento de uma data limite para novas reservas em terras onde os povos indígenas não viviam até 5 de outubro de 1988, quando a Constituição foi promulgada.

Um projeto de lei que fixa o prazo de 1988 para reivindicações de terras foi aprovado por 43 votos a 21 no Senado na quarta-feira, poucas horas depois de ter sido aprovado pelo Comitê de Constituição e Justiça.

A ofensiva poderá aprofundar a divisão entre um Congresso liderado pelos conservadores e um Supremo Tribunal que muitos legisladores criticam pelo seu excesso judicial.

O número de conflitos fundiários aumentou à medida que a fronteira agrícola do Brasil, em rápida expansão, avança para a região amazônica (NASDAQ:AMZN). Em todo o Brasil, as comunidades indígenas reivindicam terras que os agricultores colonizaram e desenvolveram, em alguns casos durante décadas.

Em nota, o Ministério dos Povos Indígenas afirmou que o projeto de lei é inconstitucional porque contraria a decisão do Supremo Tribunal Federal e atropela os direitos dos povos indígenas ao afetar sua organização social.

Lupion disse que o projeto de lei PL 490, que também foi aprovado na Câmara, enfrenta um provável veto do presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu legalizar cerca de 300 reservas que aguardam reconhecimento e proteção do Estado.

O lobby agrícola se concentrará em seguida na aprovação da emenda constitucional PEC 132, que estabelece compensações para agricultores forçados a deixar terras que colonizaram há 70 anos, disse Lupion.

Embora os termos ainda estejam a ser decididos pelo Supremo Tribunal, a compensação para os agricultores expulsos pode ser dispendiosa para um governo que tem recursos limitados e está a lutar para reduzir o défice fiscal do Brasil. E o lobby de Lupion pressiona para que a compensação seja paga antes dos despejos e não depois.

“Se o governo quiser demarcar (terras indígenas), deve saber que terá que pagar”, disse.

O Ministério dos Povos Indígenas, respondendo a um pedido de comentário da Reuters, disse que não tinha estimativa do custo da compensação pelas terras ocupadas por agricultores, mas estava trabalhando num “diagnóstico” da situação.

Uma terceira proposta de emenda, ou PEC 48, inseriria a data limite de 5 de outubro de 1988 diretamente no texto da Constituição.

O lobby agrícola está confiante de que conseguirá reunir votos para a legislação que pretende. Os membros do Caucus representam três quintos da Câmara dos Deputados e metade das cadeiras do Senado.

Lupion se reuniu com líderes de outras 15 bancadas do Congresso na terça-feira para discutir maneiras de se opor ao tribunal superior por “usurpar e invadir” a jurisdição do Congresso ao decidir sobre questões como a legalização das drogas e a descriminalização do aborto.

“Tomaremos as medidas necessárias para restabelecer o equilíbrio entre os poderes”, afirmou o seu grupo num comunicado.